OBRIGADO, DENIS

German Denis, o maior artilheiro estrangeiro da história da Atalanta (Foto: Paolo Magni/Eco di Bergamo)
O futebol é tão inexplicável quanto apaixonante. E nessa relação, não tenho medo de estar exagerando. O futebol e o time de futebol são duas das paixões mais intensas e verdadeiras que uma pessoa pode sentir. Você pode trocar de marido ou esposa, pode trocar de emprego, casa, cidade, brigar com a família, ser rico, pobre... Você nunca vai abandonar as cores do seu time e seu amor pelo futebol, pois essas não são coisas racionais. Esse sentimento vem de dentro para fora, como se você fosse escolhido para vestir essa camisa. E uma vez vestido, você não troca nunca mais até a morte. É tão profundo quanto sem sentido. Quem ama não enxerga mais nada. E esse é um casamento para toda a vida. E dia 30 de janeiro de 2015 vai ficar marcado para sempre para mim. Não tenho ídolos no futebol ou fora dele, mas pessoas que eu admiro. Foi nessa data que um dos melhores jogadores que eu vi jogar no meu time se despediu para retornar à terra natal. Messi? Cristiano Ronaldo? Neymar? Na verdade, historicamente ele representa menos até do que o Gervinho, com todo respeito ao marfinense, que já atuou pelo Arsenal, Roma e em duas Copas do Mundo. Porém, história se faz com muito mais do que com o nome. Estou falando de German Gustavo Denis.

O nome pode não ser conhecido do grande público, mas Denis se colocou na história da Atalanta. Ao todo, foram 4 anos e meio vestindo a maglia neroazzurra e 56 gols marcados. Números que levam o argentino para o topo do ranking dos maiores artilheiros estrangeiros de todos os tempos da equipe bergamasca. Mais do que isso, il Tanque, como ficou conhecido, honrou a camisa que vestiu em todas as vezes que entrou em campo, seja nos momentos bons ou ruins. Sem querer, Denis se tornou o maior símbolo do ressurgimento da Atalanta após o rebaixamento na temporada 2009/2010. Ao mesmo tempo, ele fez ressurgir a própria carreira. Saiu da Argentina pela primeira vez com 21 anos, em 2002, quando deixou o pequeno Los Andes para se aventurar na terceira divisão italiana pelo Cesena. Não deu certo e retornou para casa. Rodou pelo Arsenal de Sarandí, Colón, mas foi no Independiente que o atacante se destacou. Foram 37 gols em 70 partidas entre 2006 e 2008. O desempenho chamou a atenção do Napoli, que contratou a nova promessa. Porém, a responsabilidade pesou sobre Denis, que não conseguiu render bem. Em 63 jogos, fez 13 gols. Foi negociado com a Udinese, mas foi pior ainda. Somente quatro gols marcados em uma temporada inteira.

Então surgiu a oportunidade de um recomeço na Itália. No dia 24 de agosto de 2008, German Denis se despediu da Udinese em uma melancólica derrota por 2 a 1 em casa para o Arsenal, que eliminou os bianconeri na fase preliminar da Champions League. A Atalanta vivia um momento de grande incerteza e pouca credibilidade. A alegria pelo título da Serie B em 2010/2011 e o retorno à elite do futebol italiano se tornou dúvida quando o maior artilheiro e um dos maiores ídolos da história do clube, Cristiano Doni, admitiu ter participado do escândalo de manipulação de resultados conhecido como Calcioscommesse. A cidade inteira de Bergamo e todos os torcedores fizeram uma grande campanha contra as acusações a Doni até ele se declarar culpado. O ex-ídolo foi banido do futebol por 5 anos e seis meses e encerrou a carreira no fundo do poço. De quebra, a Atalanta começou o campeonato com seis pontos negativos de punição por causa do envolvimento no Calcioscommesse.

O então técnico Stefano Colantuono, juntamente com o presidente Antonio Percassi e o diretor de futebol Pierpaolo Marino, apostaram em uma mistura de jovens, como Bonaventura, Schelotto, Moralez e Gabbiadini, com nomes mais experientes, como Cigarini, Lucchini, Masiello, Stendardo e Denis. E deu certo. Apesar da punição, a Atalanta terminou na ótima 12ª colocação (9ª colocação sem a punição) e German Denis chamou a responsabilidade marcando 16 gols. Nas duas temporadas seguidas, Il Tanque fez 15 e 13 gols, respectivamente, e ajudou a Dea a escapar do rebaixamento com tranquilidade.

Criei o Atalanta Brasil durante a disputa da Serie B, exatamente no dia 04 de março de 2011. O objetivo nunca foi ser "modinha" ou da "modinha de ser do contra". Minha primeira lembrança de algum jogo do futebol italiano foi um Roma 1 a 0 na Atalanta na temporada 2000/2001. Então com 7 anos, o que me chamou a atenção foi a cor do uniforme do time que perdeu. Uma linda combinação de azul e preto. Talvez se estivessem jogando Roma e Inter, eu hoje seria torcedor da Inter. Mas não foi. Desde então, comecei a acompanhar o time à distância. Mas em 2011 resolvi entrar de cabeça nessa paixão em seguir todos os jogos, as notícias e o que for relacionado à Atalanta. De 2011 até hoje, muita coisa mudou na minha vida. Sai da minha cidade para morar sozinho longe da família, me formei em jornalismo (algo que o Atalanta Brasil contribuiu) e trabalho na área (o que o Atalanta Brasil também ajudou). Vivi histórias incríveis, decepções, amores, desamores, alegrias, perdas, medos e tenho meus fantasmas. Mas uma coisa nunca mudou nesse tempo: meu amor pela Atalanta. Esse time me deu até amigos na Itália. Apesar dos contratempos, o Atalanta Brasil continua vivo por cinco anos. Não importa como estou me sentindo, quando sento em frente ao computador para ver uma partida da Atalanta, todo o resto parece se tornar pequeno. Todos os gritos aos domingos de manhã, todos os xingamentos pelos erros, toda as decepções pelas derrotas, todas as comemorações pelas vitórias. Todos os gols. Tudo se resume ao amor.

Obrigado, Denis, por ser um dos protagonistas dessa história e também por fazer parte da minha.

Aldir Junior de Sales Gomes 
Editor do Atalanta Brasil

Abaixo seguem os vídeos com os gols de Denis pela Atalanta, além da festa feita pela torcida da Atalanta na despedida do Tanque.











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